Daniel Cassol
Em Porto Alegre
O ano de João Derly, até agora, é um pesadelo. Não bastasse a lesão sofrida no começo do primeiro semestre, que o obrigou a operar o joelho esquerdo, no mês passado ele foi submetido a uma nova intervenção cirúrgica, que o deixará longe dos tatames por mais seis meses. Quando voltar, em 2011, será obrigado a correr atrás do tempo perdido.
O sistema de classificação olímpica começou nesse ano e todos os seus concorrentes já somam pontos pelas Olimpíadas de 2012. Se quiser lutar em Londres também, vai precisar disputar mais competições do que estava acostumado. E o desafio será ainda maior por causa do peso. Desde o início do ano, ele subiu dos meio-leves (66kg), em que era bicampeão mundial, para os pesos leves (73kg). Aos 29 anos, a tarefa é quase hercúlea para o gaúcho.
Derly conversou nesta semana com o UOL Esporte, pouco mais de um mês depois de sofrer artroscopia no joelho esquerdo. Em janeiro, Derly já havia operado o local, reconstruindo o menisco e o ligamento cruzado anterior. A previsão de retorno era de seis meses. Quando voltava aos treinos, começou a sentir dores, que o levaram à segunda operação, realizada no dia 6 de julho. "Foi uma artroscopia de reparação. No primeiro momento, fiquei bem triste. Já estava achando que estava perto de voltar a treinar normalmente. Mas vou ter que esperar tudo de novo”, conta.
Com rivais mais pesados, o judoca sabe que o caminho para voltar à Olimpíada é bem mais difícil do que previa em 2008, após as Olimpíadas de Pequim. Naquela época, o único brasileiro bicampeão mundial de judô tinha acabado de ser eliminado na segunda de sua estreia olímpica. Hoje, sem competir há mais de um ano, já faz contas dos pontos necessários para Londres.
“Vou estar um pouco atrasado na classificação para a Olimpíada, mas a partir de maio começam a valer 100% dos pontos. Talvez isso possa me beneficiar, mas vou ter que competir muito mais”, acredita. Lembrando: o ciclo olímpico de 2012 é o primeiro em que o ranking mundial serve para classificar judocas diretamente para os Jogos. Para ficar com a vaga, Derly precisa ser o melhor brasileiro na lista e ainda estar entre os 22 melhores por país.
Na prática, essa corrida por pontos o fará percorrer uma maratona. Em um ano normal, Derly participa de cinco competições internacionais. A ideia agora é dobrar o número de participações. A Copa do Mundo em São Paulo e o Grand Slam no Rio de Janeiro, em maio, devem ser as primeiras de João Derly após a recuperação. Ele ainda não parou para fazer cálculos, mas a partir de fevereiro deve entrar em uma sequência pesada de viagens e disputas internacionais.
“Será um ano em que vou viajar muito para alcançar o ritmo de competição e a pontuação”, projeta. “Ainda não parei para pensar quantos pontos preciso. O que tenho em mente é que vou ter que ganhar muitas competições em 2011”, completa.
‘Só quero ficar bom’
Frustrado com a interrupção do retorno ao tatame, Derly não sabe nem explicar direito que tipo de cirurgia sofreu. Ele até evita falar do assunto, porque seu único objetivo agora é voltar aos treinamentos com força máxima, sem precisar parar outra vez. “Nem sei direito o que foi feito. Só quero ficar bom, não importa o que aconteceu. A gente fica se remoendo das coisas, então só quero ficar bom de uma vez e voltar a competir”, afirma.
Derly não iniciou os treinos físicos e ainda caminha vagarosamente. "Estou de volta à luta da recuperação. Ainda estou cuidando para não piorar a lesão", revela. O objetivo agora é evitar uma nova recaída, sem precisar interromper a recuperação outra vez. “Quando entro, não gosto de recuar. Então estou me recuperando para entrar e ir evoluindo, sem precisar recuar no treino físico e na parte técnica”, explica.
Aos 29 anos, com dois títulos mundiais como meio-leve, Derly ainda não pensa em encerrar a carreira. Apesar de sua nova categoria exigir velocidade, ele aposta na força física, na experiência adquirida e no fato de ter começado a sofrer lesões tarde – fez a primeira cirurgia, no ombro, em 2006 – para projetar até a participação nos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016.
Sua meta, por enquanto, é retornar às competições a tempo de poder buscar a inédita medalha em Jogos Olímpicos. “Se eu conseguir chegar nas Olimpíadas de Londres e ganhar uma medalha, talvez não queira parar. Como vai ter Olimpíada no Brasil em 2016, é difícil agora dizer se vou ou não participar. É um passo de cada vez. Penso em tentar chegar em 2012, buscar minha sonhada medalha olímpica, para depois pensar no resto da carreira”, diz o judoca.
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