Jigoro Kano


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domingo, 21 de fevereiro de 2010

Judo: arte marcial ou estilo de vida?


Ao contrário da antiga filosofia do “jujutsu” que veicula a ideia de “shin-ken-shobu” – “vencer ou morrer” ou “lutar até a morte” – o pai do judo, Jigoro Kano, construiu as bases da modalidade no espírito do “ippon-shobu” – “a luta pelo ponto completo”, ou seja, para além de ser um desporto de defesa pessoal, o judo oferece aos seus praticantes a possibilidade de superarem as suas próprias limitações físicas, mentais e espirituais.

No fundo, este confronto desportivo entre dois judocas (nome dado aospraticantes do judo), recorre à “não resistência” para controlar, desequilibrar e vencer o adversário com um esforço mínimo. Ao contrário do “jujutsu”, onde o objectivo primordial de qualquer combate era vencer, o judo é, em primeiro lugar, uma actividade física com uma forte componente educativa, racional, objectiva e eficaz. O uso da inteligência é estimulada, principalmente no sentido de um judoca utilizar a própria força e peso do seu oponente contra ele. Nas palavras do Mestre Jigoro Kano: “o judo é a arte em que se usa ao máximo a força física e espiritual e a vitória representa um fortalecimento espiritual”.

Os 3 princípios

O Mestre Jigoro Kano estruturou toda a modalidade em torno de três princípios fundamentais que resumidos são “máxima eficácia, mínimo esforço” e “prosperidade e benefícios mútuos”.

  1. Princípio da Máxima Eficácia do Corpo e do Espírito (“Seiryoku Zen’Yo”) – tratar e fortalecer o corpo, a mente e o espírito, mantendo-os sempre saudáveis, para que nos possam servir de forma racional, inteligente e utilitária, não só nas lutas de judo, mas em todos os aspectos do nosso quotidiano.
  2. Princípio da Prosperidade e Benefícios Mútuos (“Jita Kyoei”) – o progresso pessoal está intimamente ligado à solidariedade humana e à entreajuda, só assim é que nos tornamos atletas e humanos completos.
  3. Princípio da Suavidade (“Ju”) – apesar de directamente ligado ao plano físico, este princípio deve ser utilizado inteligentemente, ou melhor, a força deve ser racionalizada, para não ser de mais, para não tornar a luta violenta.

Valores ensinados

O judo é, acima de tudo, uma escola de valores, onde se procura ensinar os atletas a serem cidadãos, que vivem em harmonia com a sociedade, sempre com respeito pelo próximo. O seu progresso é medido com base nas três componentes da modalidade:

  • “Shin” – o espírito: os atletas são ensinados a respeitar todo o ritual que envolve o judo, tornando-os assim cidadãos mais atentos e mais pacientes. A força mental e o verdadeiro espírito judoca está no respeito pelos adversários, em saber aquilo que se quer e que se está a fazer.
  • “Ghi” – a técnica: o atleta de judo aprende uma enorme diversidade de técnicas de ataque e de defesa, que só praticando e repetindo é que aperfeiçoa. É nesta fase que também aprende os três princípios da modalidade.
  • “Tai” – o valor do combatente: a aprendizagem das técnicas do judo e o desenvolvimento da força mental conferem ao atleta as capacidades necessárias para ser considerado um verdadeiro e eficaz combatente.

O Código Moral

Precisamente porque o judo é muito mais do que uma modalidade desportiva, uma luta ou uma arte marcial, tem o seu próprio código moral, que deve ser aplicado em todos os aspectos da vida de um judoca.

  • Amizade: o respeito, a sinceridade e a modéstia são a base para construir laços de amizade com aqueles que o acompanham nesta escola de vida.
  • Auto-controlo: controlar as emoções e os impulsos, principalmente os negativos, mantendo-se concentrado nas suas capacidades e naquilo que tem de ser feito.
  • Coragem: no judo (tal como na vida) ser corajoso implica saber começar uma coisa, ter a força para continuar, mesmo sem resultados à vista, e nunca desistir, ter sempre esperança.
  • Cortesia: existem um conjunto de regras e de etiquetas que devem ser respeitadas; o judoca tem de ter sempre consciência das suas atitudes e consequentes resultados.
  • Honra: ser digno consigo próprio e com os outros; dar o melhor de si e fazer por ganhar, mas não procurar a vitória a qualquer custo.
  • Modéstia: saber ganhar, saber perder, ser humilde e despretensioso em ambas as situações e, acima de tudo, com os seus colegas.
  • Sinceridade: saber ser verdadeiro e exprimir-se genuinamente, o que implica um grande conhecimento e aceitação de si próprio.
  • Respeito: talvez o valor mais importante do judo e da vida; é essencial respeitar-se a si, aos outros atletas, ao professor, àquilo que se passa no tapete. Só com respeito é que há confiança, verdade e amizade.

A importância do cumprimento

O judo é regido pelo respeito, cortesia e amizade mútua – valores que se expressam através de dois “cumprimentos” ou “saudações”. A saudação ou “Rei-ho” é o sinal máximo de respeito no judo e pode ser realizada em pé (“Ritsu-rei”) ou ajoelhada (“Za-rei”). A saudação deve ser efectuada por cada judoca sempre que entra e sai do “dojo”, sempre que pisa e que deixa o tapete, sempre que inicia e termina uma aula, sempre que começa e termina um treino com um colega, no início e no fim de cada prova.

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